Primeira
- Por que os alunos viviam tão motivados numa época onde passávamos anos
treinando sem realizarmos exames de faixas e sem participarmos de competições?
Pode
ser uma questão de modismo, dirão alguns, quando tentam justificar o
esvaziamento dos dojos de karatê. Mas não creio que seja esse o motivo; até porque
já faz mais de duas décadas que esse esvaziamento começou.
É a
falta de apoio da mídia, dirão outros. Pode até ser em parte, mas eu creio que
não, porque na época em que eu tinha o meu dojo cheio de alunos em qualquer
lugar que ensinasse, a única forma de divulgação que dispunha era o velho
boca-a-boca.
Segunda
– Por
que, hoje, falta tanta motivação se é tão fácil graduar-se e obter uma medalha
de campeão?
O
que vemos é que graduar-se e ser campeão com facilidade pode ter um papel mais
que contrário; isto é, além de não gerar a motivação tão desejada, contribui
para desvalorizar dois elementos que antes eram tão nobres no processo de
crescimento do karateca e do cidadão. Hoje não conseguimos perceber a diferença
de graduação pelo nível técnico; nós notamos essa diferença apenas pela cor da
faixa. Tanto faz um faixa verde como um faixa preta, e isso não é porque o
verde é bom, mas o preta é que é ruim. Pasmem: na última competição em que
trabalhei encontrei uma adolescente com graduação superior que não sabia nem
amarar a própria faixa.
Terceira
– Será que há alguma relação entre a desorganização dos eventos
(descumprindo com os horários e não tendo um corpo de árbitros competente) e a
falta de motivação?
Cremos
que há uma relação direta entre a desorganização dos eventos e a desmotivação,
não só dos alunos, mas também dos seus familiares. No que se refere aos
problemas que envolvem as competições, podemos nomear quatro partes mais
relevantes:
A –
Horários;
B –
Arbitragem;
C –
Segurança;
D –
Premiação.
Horários –
1 –
É comum os eventos começarem com horas de atraso. Isso é um dos principais
fatores que impossibilitam a cobertura pelos meios de comunicação;
2 –
Há casos em que atletas adultos acordam-se as quatro ou cinco horas da manhã
para ir a competições em outras cidades e só entram no koto (área de
competição) as vinte e uma horas. A organização dos eventos deveria fazer um
planejamento cronológico, definindo a hora antecipada em que determinada
categoria deveria está pronta para competir.
Arbitragem –
1 –
Os árbitros são mal remunerados (quando são pagos);
2 –
Na maioria das vezes os árbitros são despreparados, e esse despreparo é a consequência
do baixo nível técnico dos “professores” e alunos, que rapidamente se graduam
sem conhecimento suficiente para tais graduações.
Segurança –
1 –
Raramente há uma equipe de socorristas para atender aos acidentados. Quando há,
falta desfibrilador, colar cervical, prancha...;
2 –
Geralmente não há policiamento nos eventos. Por conta disso, alguns campeonatos
federais e estaduais terminaram na maior pancadaria.
Premiação –
A
cada competição a premiação é mais vagabunda. As medalhas se desmontam em pouco
tempo, e o conteúdo nelas gravados vão se descolorindo até desaparecerem por
completo.
Quarta
– E as premiações? Será que diminuindo a quantidade de categorias e pagando
com dinheiro em espécie aos primeiros colocados é possível estimular os atletas
para treinarem e competirem mais?
Ainda
sobre as premiações – Cremos que se cumprindo os horários preestabelecidos à
risca, haverá público e mídia nos eventos de karatê. Com público e mídia vêm os
patrocinadores, com patrocínio há recursos financeiros para premiações de verdade. Outro detalhe: apenas os melhores atletas dos clubes
devem participar dos eventos estaduais e apenas
os melhores do estado devem participar das competições interestaduais e
federais. Dessa forma evita-se a morosidade quando na realização de eventos de
médio e grande porte, oferecendo ao público um espetáculo em organização e
técnica, capaz de conquistar grandes plateias e divulgar positivamente o
esporte, valorizando os profissionais sérios que investem em capacitação e
dedicam-se ao treinamento árduo baseado na pesquisa científica.
Quinta
– O que é capaz de motivar os professores?
Coisas
que motivam os professores de karatê:
a) As mensalidades pagas rigorosamente
em dias;
b) O respeito e o reconhecimento (quanto
a sua importância no processo de formação do cidadão) por parte dos alunos e
dos seus familiares;
c) Ter os seus direitos trabalhistas
garantidos pelos empregadores;
d) Ser reconhecido como profissionais de
Educação Física pelos CREFs (Conselhos Regionais de Educação Física) e pelos
DEFEs (Departamentos de Educação Física e Esportes) dos colégios;
e) A indicação dos professores de
karatê, por parte dos alunos e ex-alunos, para que eles possam trabalhar em
escolas, clubes de empresas, etc.
Sexta
– O que podemos fazer de concreto e imediato para motivar os professores e
atletas?
O
que pode ser feito de concreto e imediato para motivar os professores e alunos
de karatê é o seguinte:
Cada
praticante assumir como missão recrutar mais três alunos novos por semestre;
isto é, a cada dois meses incluir mais um novato ao grupo. Dessa forma, se sua
equipe hoje é composta por dez alunos, com seis meses você fará parte de um
grupo de quarenta praticantes. Com um ano essa equipe será composta por setenta
membros, ou mais.
A
motivação do professor terá como base o dojo cheio e os seus rendimentos
aumentados significativamente. Os alunos, além da ampliação do círculo de
amizades, terão muito mais chances de crescerem treinando com tantos
adversários diferentes.
Sétima
– O que deve ser feito para trazer o público aos campeonatos?
Acreditamos
que a competição de karatê, vista como uma oportunidade de demonstrar, na
prática, a disciplina e filosofias das artes marciais do oriente, pode ser
também uma vitrine capaz de mostrar ao público a capacidade profissional dos
professores. Entendemos que a beleza maior, capaz de conquistar o público em
geral, encontra-se na precisão das técnicas na execução dos katas, no controle
dos contatos no shiai-kumite, e, sobretudo, no contraste entre a força (poder)
e a humildade, que podem ser definidos simplesmente como equilíbrio, ou equilíbrio emocional.
Penso
que para coroar de êxito as competições de médio e grande porte, as federações
e confederações devem contratar os serviços dos profissionais de gestão desportiva para realizar tais eventos.
Oitava
– O que fazer para evitar as frustrações dos atletas diante das atitudes
arbitrárias dos árbitros e comissões de arbitragens?
Sabemos
que é preciso que haja uma grande modificação de todo o universo que envolve os
sistemas ensino-aprendizagem e eventos do karatê; até porque a própria dinâmica
da existência nos impõe isso. Não podemos continuar usando o mesmo modelo que
um dia funcionou, mas que não satisfaz as nossas necessidades atuais. Todavia é
preciso entender que esse “bum” não ocorrerá através de uma força alienígena
que atua de dentro para fora, nem do dia para noite. Nós temos que começar a
pensar em mudanças, transferir esses novos pensamentos para o papel em forma de
documentos (denuncias, petições) e enviá-los aos órgãos competentes,
acompanhando todos os trâmites legais dos processos, para que as coisas
aconteçam. O que nós não podemos é aceitar tudo como se fosse normal diante de
fatos que nos indignam e violam os nossos direitos.
Nona
– O que fazer para enfrentarmos com tranquilidade o radicalismo dos gestores
dos eventos, no que se refere a meras formalidades (denominadas por eles como
questões técnicas), num universo onde nada é absoluto?
A
formação continuada deve ser uma constante para todos os profissionais de todas as
áreas e não poderia ser diferente com os professores de karatê e árbitros.
Infelizmente, a maioria esmagadora dos praticantes de lutas quando conquistam a
faixa preta, acham que são professores e árbitros. Pensam que estão no
“crepúsculo dos deuses” e a partir daí não precisam mais pagar as mensalidades
nos clubes onde praticam, nem se capacitarem para se tornar instrutores,
examinadores e árbitros. A vaidade sobe a cabeça e as arbitrariedades passam a
ser uma constante nas competições em que atuam como árbitros. Como
“professores” passam a “ensinar” sem saber direito o que estão ensinando e vão
criando aberrações técnicas que deformam de modo incorrigível essa milenar arte
japonesa, causando até problemas de saúde em seus alunos.
Quanto
à questão das formalidades ultrapassadas que continuam resistindo ao tempo
unicamente por conta do orgulho e inflexibilidade dos gestores (ou ditadores?)
que assumem de forma vitalícia as presidências das federações e confederações,
precisamos fazê-los entender que os alunos e familiares são os personagens mais
importantes dessa engrenagem e que precisam ser respeitados acima de tudo.
A integridade física, emocional e espiritual dos nossos alunos é mais
importante do que qualquer questão técnica ou burocrática.
Conclusão:
Certa
vez Albert Einstein disse o seguinte: Loucura é fazer a mesma coisa e esperar
resultados diferentes.
Se
os dojos dos pernambucanos estão com poucos alunos, as competições com poucos
atletas (esses com baixo nível técnico) e os professores mal remunerados, é
evidente que algo precisa ser feito para mudar essa realidade, e esse algo
inevitavelmente começa com uma forma
diferente de divulgar o karatê. Que forma é essa eu não sei, mas sei que se
continuarmos fazendo tudo do mesmo jeito, as coisas não vão mudar para melhor.
Por isso concluo esse texto convidando a todos os interessados a nos reunir,
para juntar as nossas forças e inteligência, em busca de soluções que
certamente surgirão com a participação de todos (professores, alunos e
familiares).
Concordo inteiramente com suas observações;quando praticava karate na minha infância,não tinha a menor preocupação com campeonatos,eram dois ou três por ano,eles eram vistos como uma confraternização, uma forma de encontrar os amigos, outros professores,levar os parentes , trocar conhecimento e o resultado deles era apenas uma consequência do que estava sendo feito no dojo,era uma festa.Há alguns anos fui convidado a treinar com uns amigos de outra federação, pois sou faixa verde; após 15 anos fiquei surpreso com o que vi:inúmeras associações e crianças de cinco,seis anos disputando kumite, essas mesmas crianças com faixas roxas e até marrom,executando golpes sem técnica,sem kime e sem nem saber fazer os katas de forma correta, e pior tudo num clima de disputa tipo UFC.Acho que hoje a coisa está muito dividida,um karatê disperso,perdendo a essência,tem muita gente que por ter conseguido sua faixa preta muito fácil não sabe dar valor e está é querendo ganhar dinheiro e prestígio que não conseguiram. Viva aos mestres Tanaka, Machida, Sasaki,Kawamura, meus antigos mestres Ary,Arruda,Adilson,Drauzio,Humberto,Humberto (he man).Parabéns prof. Hélio.
ResponderExcluirObrigado por ter nos dado sua atenção e pelo commentário; mas não desista do Karatê por conta dessa onda mercantilista que vem assolando os dojos e kotos. Precisamos continuar difundindo as Artes Marciais como veículos importantes na busca do desenvolvimento do homem e na melhoria da qualidade de vida. Visite-nos em nosso novo endereço: ACADEMIA ARENA - Rua do Sol, 780 - Carmo - Olinda - PE (dentro do Lava a Jato Trocão) Fone: 8746 3440.
ExcluirPermito me responder ao debate. Conheco o prof Helio simoes por ter sido e ainda me considerar o aluno dele, porem continuando, e com a aceitação previa dele, treinar e frequantendo outros lugares.
ResponderExcluirNão compartilho tudo o que fala ele durante aulas. Ele sabe que temos angulo de visão da vida diferente, maneira de enxergar as dificuldades ou as facilidades da existencia, concepções profundamente antagonista sobre a origem e rumo da vida. Mas temos um ponto em comum: profundo respeito un ao outro e isso salva sem duvida o estragos que nossas divergencias pudessem gerar se ambos não fossemos antes de tudo inteligente.
Acredito que os alunos e os professores de karatê foram vitimas de uma terrivel evoluição. As artes marciais (aproveito para fazer referencia a uma materia que publiquei no meu proprio blog , Bubishi, : https://bubishi2010.wordpress.com/2012/12/08/arte-marcial/ ) não foram apenas desenvolvidas e perpeutadas para apenas ensinar a auto defesa e promover a saude dos seus praticantes. Rapidamente foram solicitadas para também promover o crescimento moral, a educação filosofica, e evolução pessoal do individuo. Alias sem esses aspectos, a arte marcial não tem tanto a oferecer se não um conjunto de chutes e de ponta pé para brigar nas ruas. Ora para aprender a acabar com seu proximo nem precisa de tanta dedicação. Basta comprar um Taurus. Será menos cansativel e tão definitivamente eficiente.
Hoje no entanto como ja foi ressaltado, as artes marciais perderam essa responsabilidade educacional. E quando continuam, pelo fatos dos poucos professores de artes marciais que ainda são EDUCADORES e mestres, essa visão, esse proposito não parece ser percebido como o mais importante. Precisa mais e mais brilhar com medalhas no pescoço e dans na faixa para mostrar a todos que o sucesso foi adquerido de jeito cataclismaticamente fulgurante.
Onde morreu o principio moral da arte marcial cujo primiero propostito e o crescimento do caráter e do homem?
Sim! Infelizmente as artes marciais, como os idolos no Templo de Jerusalem, viraram motivo de comercio desgostoso e desgastante, um meio de vida e de enriquecimento pessoal para muitos (de professores ate presidente de confederação de karatê - apenas 43 no Brasil - e mesmo ate.... presidente de comite olimpicos ). Comento no entanto: não acho imcompativél um educador ou um professor de educação fisica especializado em artes marciais ganhar com dignidade sua vida. Precisamso de educador especializados e... bem sustentados! Mas deploro a corrida para o dinheiro ser motivo de maior importancia para a maior parte de pseudos professores que apenas pensam organizar eventos pagantes e arrecadar sempre mais dinheiro ou mais exames de faixas que alias pais de alunos e praticantes as vezes solicitam também com anxiedade...
As artes marciais e o karatê devem ser resguardado e ser vetor de tradição e de transmissão de saude e de moralidade seja com discurso evangelico, seja filosofico, seja apenas rational nos comentarios trazidos pelo instrutor, pelo professor.
Isso foi perdido em muitos lugares. Apenas sobrou a vaidade e o dinheiro. E isso foi desestimulante para muitos desses supostos professores que enxergaram que o tão sonhado sucesso tornou-se o pesadelo de um jogo de poder e de politica nojente. Desestimulante também para praticantes que percebem com o tempo que atras do mae geri potente que eles aprenderam a dar com dedicação, nada sobra apos alguns anos.
Precisamos resgatar o karatê. Precisamos resgatar as artes marciais. E considero que enquanto continuaram a existir certos educadores tal como meu professor Helio Simoes (ele acaba comigo quando nao para de falar feito uma kalachnikov) permanecerá firme e forte esse sonho de conseguir nosso objetivo.
xavier henri Baudequin
Gostei muito da sua postagem; mas quero deixar registrado que nada do que penso ou escrevo é absoluto. Continuo transformando-me e mudando os meus conceitos em relação a tudo. Felizmente existe a possibilidade de mudarmos completamente as nossas opiniões em relação as coisas que um dia defendemos com tanto fervor. Contudo, o respeito do homem para com A VERDADE, para consigo mesmo e para com o próximo, creio ser a pedra angular que a humanidade precisa para alcançar a paz e a felicidade. Ah, não consigo me enxergar como um comunista (Kalachnikov); até porque a base do que sei é Jesus Cristo.
ExcluirObrigado.