quarta-feira, 4 de julho de 2012

Uma Forma Diferente de Divulgar o Karatê em Pernambuco (parte 2)



Primeira - Por que os alunos viviam tão motivados numa época onde passávamos anos treinando sem realizarmos exames de faixas e sem participarmos de competições?
Pode ser uma questão de modismo, dirão alguns, quando tentam justificar o esvaziamento dos dojos de karatê. Mas não creio que seja esse o motivo; até porque já faz mais de duas décadas que esse esvaziamento começou.
É a falta de apoio da mídia, dirão outros. Pode até ser em parte, mas eu creio que não, porque na época em que eu tinha o meu dojo cheio de alunos em qualquer lugar que ensinasse, a única forma de divulgação que dispunha era o velho boca-a-boca.


Segunda – Por que, hoje, falta tanta motivação se é tão fácil graduar-se e obter uma medalha de campeão?
O que vemos é que graduar-se e ser campeão com facilidade pode ter um papel mais que contrário; isto é, além de não gerar a motivação tão desejada, contribui para desvalorizar dois elementos que antes eram tão nobres no processo de crescimento do karateca e do cidadão. Hoje não conseguimos perceber a diferença de graduação pelo nível técnico; nós notamos essa diferença apenas pela cor da faixa. Tanto faz um faixa verde como um faixa preta, e isso não é porque o verde é bom, mas o preta é que é ruim. Pasmem: na última competição em que trabalhei encontrei uma adolescente com graduação superior que não sabia nem amarar a própria faixa.

Terceira – Será que há alguma relação entre a desorganização dos eventos (descumprindo com os horários e não tendo um corpo de árbitros competente) e a falta de motivação?
Cremos que há uma relação direta entre a desorganização dos eventos e a desmotivação, não só dos alunos, mas também dos seus familiares. No que se refere aos problemas que envolvem as competições, podemos nomear quatro partes mais relevantes:
A – Horários;
B – Arbitragem;
C – Segurança;
D – Premiação.

Horários
1 – É comum os eventos começarem com horas de atraso. Isso é um dos principais fatores que impossibilitam a cobertura pelos meios de comunicação;
2 – Há casos em que atletas adultos acordam-se as quatro ou cinco horas da manhã para ir a competições em outras cidades e só entram no koto (área de competição) as vinte e uma horas. A organização dos eventos deveria fazer um planejamento cronológico, definindo a hora antecipada em que determinada categoria deveria está pronta para competir.
Arbitragem
1 – Os árbitros são mal remunerados (quando são pagos);
2 – Na maioria das vezes os árbitros são despreparados, e esse despreparo é a consequência do baixo nível técnico dos “professores” e alunos, que rapidamente se graduam sem conhecimento suficiente para tais graduações.
Segurança
1 – Raramente há uma equipe de socorristas para atender aos acidentados. Quando há, falta desfibrilador, colar cervical, prancha...;
2 – Geralmente não há policiamento nos eventos. Por conta disso, alguns campeonatos federais e estaduais terminaram na maior pancadaria.
Premiação
A cada competição a premiação é mais vagabunda. As medalhas se desmontam em pouco tempo, e o conteúdo nelas gravados vão se descolorindo até desaparecerem por completo.

Quarta – E as premiações? Será que diminuindo a quantidade de categorias e pagando com dinheiro em espécie aos primeiros colocados é possível estimular os atletas para treinarem e competirem mais?
Ainda sobre as premiações – Cremos que se cumprindo os horários preestabelecidos à risca, haverá público e mídia nos eventos de karatê. Com público e mídia vêm os patrocinadores, com patrocínio há recursos financeiros para premiações de verdade. Outro detalhe: apenas os melhores atletas dos clubes devem participar dos eventos estaduais e apenas os melhores do estado devem participar das competições interestaduais e federais. Dessa forma evita-se a morosidade quando na realização de eventos de médio e grande porte, oferecendo ao público um espetáculo em organização e técnica, capaz de conquistar grandes plateias e divulgar positivamente o esporte, valorizando os profissionais sérios que investem em capacitação e dedicam-se ao treinamento árduo baseado na pesquisa científica.

Quinta – O que é capaz de motivar os professores?
Coisas que motivam os professores de karatê:
a)      As mensalidades pagas rigorosamente em dias;
b)      O respeito e o reconhecimento (quanto a sua importância no processo de formação do cidadão) por parte dos alunos e dos seus familiares;
c)      Ter os seus direitos trabalhistas garantidos pelos empregadores;
d)      Ser reconhecido como profissionais de Educação Física pelos CREFs (Conselhos Regionais de Educação Física) e pelos DEFEs (Departamentos de Educação Física e Esportes) dos colégios;
e)      A indicação dos professores de karatê, por parte dos alunos e ex-alunos, para que eles possam trabalhar em escolas, clubes de empresas, etc.

Sexta – O que podemos fazer de concreto e imediato para motivar os professores e atletas?
O que pode ser feito de concreto e imediato para motivar os professores e alunos de karatê é o seguinte:
Cada praticante assumir como missão recrutar mais três alunos novos por semestre; isto é, a cada dois meses incluir mais um novato ao grupo. Dessa forma, se sua equipe hoje é composta por dez alunos, com seis meses você fará parte de um grupo de quarenta praticantes. Com um ano essa equipe será composta por setenta membros, ou mais.
A motivação do professor terá como base o dojo cheio e os seus rendimentos aumentados significativamente. Os alunos, além da ampliação do círculo de amizades, terão muito mais chances de crescerem treinando com tantos adversários diferentes.

Sétima – O que deve ser feito para trazer o público aos campeonatos?
Acreditamos que a competição de karatê, vista como uma oportunidade de demonstrar, na prática, a disciplina e filosofias das artes marciais do oriente, pode ser também uma vitrine capaz de mostrar ao público a capacidade profissional dos professores. Entendemos que a beleza maior, capaz de conquistar o público em geral, encontra-se na precisão das técnicas na execução dos katas, no controle dos contatos no shiai-kumite, e, sobretudo, no contraste entre a força (poder) e a humildade, que podem ser definidos simplesmente como equilíbrio, ou equilíbrio emocional.
Penso que para coroar de êxito as competições de médio e grande porte, as federações e confederações devem contratar os serviços dos profissionais de gestão desportiva para realizar tais eventos.

Oitava – O que fazer para evitar as frustrações dos atletas diante das atitudes arbitrárias dos árbitros e comissões de arbitragens?
Sabemos que é preciso que haja uma grande modificação de todo o universo que envolve os sistemas ensino-aprendizagem e eventos do karatê; até porque a própria dinâmica da existência nos impõe isso. Não podemos continuar usando o mesmo modelo que um dia funcionou, mas que não satisfaz as nossas necessidades atuais. Todavia é preciso entender que esse “bum” não ocorrerá através de uma força alienígena que atua de dentro para fora, nem do dia para noite. Nós temos que começar a pensar em mudanças, transferir esses novos pensamentos para o papel em forma de documentos (denuncias, petições) e enviá-los aos órgãos competentes, acompanhando todos os trâmites legais dos processos, para que as coisas aconteçam. O que nós não podemos é aceitar tudo como se fosse normal diante de fatos que nos indignam e violam os nossos direitos.

Nona – O que fazer para enfrentarmos com tranquilidade o radicalismo dos gestores dos eventos, no que se refere a meras formalidades (denominadas por eles como questões técnicas), num universo onde nada é absoluto?
A formação continuada deve ser uma constante para todos os profissionais de todas as áreas e não poderia ser diferente com os professores de karatê e árbitros. Infelizmente, a maioria esmagadora dos praticantes de lutas quando conquistam a faixa preta, acham que são professores e árbitros. Pensam que estão no “crepúsculo dos deuses” e a partir daí não precisam mais pagar as mensalidades nos clubes onde praticam, nem se capacitarem para se tornar instrutores, examinadores e árbitros. A vaidade sobe a cabeça e as arbitrariedades passam a ser uma constante nas competições em que atuam como árbitros. Como “professores” passam a “ensinar” sem saber direito o que estão ensinando e vão criando aberrações técnicas que deformam de modo incorrigível essa milenar arte japonesa, causando até problemas de saúde em seus alunos.
Quanto à questão das formalidades ultrapassadas que continuam resistindo ao tempo unicamente por conta do orgulho e inflexibilidade dos gestores (ou ditadores?) que assumem de forma vitalícia as presidências das federações e confederações, precisamos fazê-los entender que os alunos e familiares são os personagens mais importantes dessa engrenagem e que precisam ser respeitados acima de tudo.
A integridade física, emocional e espiritual dos nossos alunos é mais importante do que qualquer questão técnica ou burocrática.

Conclusão: Certa vez Albert Einstein disse o seguinte: Loucura é fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes.
Se os dojos dos pernambucanos estão com poucos alunos, as competições com poucos atletas (esses com baixo nível técnico) e os professores mal remunerados, é evidente que algo precisa ser feito para mudar essa realidade, e esse algo inevitavelmente começa com uma forma diferente de divulgar o karatê. Que forma é essa eu não sei, mas sei que se continuarmos fazendo tudo do mesmo jeito, as coisas não vão mudar para melhor. Por isso concluo esse texto convidando a todos os interessados a nos reunir, para juntar as nossas forças e inteligência, em busca de soluções que certamente surgirão com a participação de todos (professores, alunos e familiares).

4 comentários:

  1. Concordo inteiramente com suas observações;quando praticava karate na minha infância,não tinha a menor preocupação com campeonatos,eram dois ou três por ano,eles eram vistos como uma confraternização, uma forma de encontrar os amigos, outros professores,levar os parentes , trocar conhecimento e o resultado deles era apenas uma consequência do que estava sendo feito no dojo,era uma festa.Há alguns anos fui convidado a treinar com uns amigos de outra federação, pois sou faixa verde; após 15 anos fiquei surpreso com o que vi:inúmeras associações e crianças de cinco,seis anos disputando kumite, essas mesmas crianças com faixas roxas e até marrom,executando golpes sem técnica,sem kime e sem nem saber fazer os katas de forma correta, e pior tudo num clima de disputa tipo UFC.Acho que hoje a coisa está muito dividida,um karatê disperso,perdendo a essência,tem muita gente que por ter conseguido sua faixa preta muito fácil não sabe dar valor e está é querendo ganhar dinheiro e prestígio que não conseguiram. Viva aos mestres Tanaka, Machida, Sasaki,Kawamura, meus antigos mestres Ary,Arruda,Adilson,Drauzio,Humberto,Humberto (he man).Parabéns prof. Hélio.

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    1. Obrigado por ter nos dado sua atenção e pelo commentário; mas não desista do Karatê por conta dessa onda mercantilista que vem assolando os dojos e kotos. Precisamos continuar difundindo as Artes Marciais como veículos importantes na busca do desenvolvimento do homem e na melhoria da qualidade de vida. Visite-nos em nosso novo endereço: ACADEMIA ARENA - Rua do Sol, 780 - Carmo - Olinda - PE (dentro do Lava a Jato Trocão) Fone: 8746 3440.

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  2. Permito me responder ao debate. Conheco o prof Helio simoes por ter sido e ainda me considerar o aluno dele, porem continuando, e com a aceitação previa dele, treinar e frequantendo outros lugares.

    Não compartilho tudo o que fala ele durante aulas. Ele sabe que temos angulo de visão da vida diferente, maneira de enxergar as dificuldades ou as facilidades da existencia, concepções profundamente antagonista sobre a origem e rumo da vida. Mas temos um ponto em comum: profundo respeito un ao outro e isso salva sem duvida o estragos que nossas divergencias pudessem gerar se ambos não fossemos antes de tudo inteligente.
    Acredito que os alunos e os professores de karatê foram vitimas de uma terrivel evoluição. As artes marciais (aproveito para fazer referencia a uma materia que publiquei no meu proprio blog , Bubishi, : https://bubishi2010.wordpress.com/2012/12/08/arte-marcial/ ) não foram apenas desenvolvidas e perpeutadas para apenas ensinar a auto defesa e promover a saude dos seus praticantes. Rapidamente foram solicitadas para também promover o crescimento moral, a educação filosofica, e evolução pessoal do individuo. Alias sem esses aspectos, a arte marcial não tem tanto a oferecer se não um conjunto de chutes e de ponta pé para brigar nas ruas. Ora para aprender a acabar com seu proximo nem precisa de tanta dedicação. Basta comprar um Taurus. Será menos cansativel e tão definitivamente eficiente.

    Hoje no entanto como ja foi ressaltado, as artes marciais perderam essa responsabilidade educacional. E quando continuam, pelo fatos dos poucos professores de artes marciais que ainda são EDUCADORES e mestres, essa visão, esse proposito não parece ser percebido como o mais importante. Precisa mais e mais brilhar com medalhas no pescoço e dans na faixa para mostrar a todos que o sucesso foi adquerido de jeito cataclismaticamente fulgurante.
    Onde morreu o principio moral da arte marcial cujo primiero propostito e o crescimento do caráter e do homem?

    Sim! Infelizmente as artes marciais, como os idolos no Templo de Jerusalem, viraram motivo de comercio desgostoso e desgastante, um meio de vida e de enriquecimento pessoal para muitos (de professores ate presidente de confederação de karatê - apenas 43 no Brasil - e mesmo ate.... presidente de comite olimpicos ). Comento no entanto: não acho imcompativél um educador ou um professor de educação fisica especializado em artes marciais ganhar com dignidade sua vida. Precisamso de educador especializados e... bem sustentados! Mas deploro a corrida para o dinheiro ser motivo de maior importancia para a maior parte de pseudos professores que apenas pensam organizar eventos pagantes e arrecadar sempre mais dinheiro ou mais exames de faixas que alias pais de alunos e praticantes as vezes solicitam também com anxiedade...

    As artes marciais e o karatê devem ser resguardado e ser vetor de tradição e de transmissão de saude e de moralidade seja com discurso evangelico, seja filosofico, seja apenas rational nos comentarios trazidos pelo instrutor, pelo professor.

    Isso foi perdido em muitos lugares. Apenas sobrou a vaidade e o dinheiro. E isso foi desestimulante para muitos desses supostos professores que enxergaram que o tão sonhado sucesso tornou-se o pesadelo de um jogo de poder e de politica nojente. Desestimulante também para praticantes que percebem com o tempo que atras do mae geri potente que eles aprenderam a dar com dedicação, nada sobra apos alguns anos.

    Precisamos resgatar o karatê. Precisamos resgatar as artes marciais. E considero que enquanto continuaram a existir certos educadores tal como meu professor Helio Simoes (ele acaba comigo quando nao para de falar feito uma kalachnikov) permanecerá firme e forte esse sonho de conseguir nosso objetivo.

    xavier henri Baudequin

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    1. Gostei muito da sua postagem; mas quero deixar registrado que nada do que penso ou escrevo é absoluto. Continuo transformando-me e mudando os meus conceitos em relação a tudo. Felizmente existe a possibilidade de mudarmos completamente as nossas opiniões em relação as coisas que um dia defendemos com tanto fervor. Contudo, o respeito do homem para com A VERDADE, para consigo mesmo e para com o próximo, creio ser a pedra angular que a humanidade precisa para alcançar a paz e a felicidade. Ah, não consigo me enxergar como um comunista (Kalachnikov); até porque a base do que sei é Jesus Cristo.
      Obrigado.

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