sábado, 11 de julho de 2009

Série de depoimetos: O que o karatê representa em sua vida?

O depoimento de Solon Luiz de Castro Costa

Apesar de já ter ouvido falar do Karatê como uma arte marcial de origem japonesa, não sabia ao certo do que se tratava. No final de 2004, ao voltar de uma caminhada na praia, eu e meu filho Guto, escutamos uns gritos vindos do Colégio Santa Emília – unidade I. Falamos com o porteiro e este nos permitiu a entrada. Foi nesse dia que conheci o professor Hélio Simões de Matos, que gentilmente veio nos cumprimentar e convidar para assistirmos ao treino que comandava e que ainda se encontrava na fase de aquecimento. Gostamos do que vimos e Guto demonstrou interesse em participar desse esporte. Coincidência ou não, no ano seguinte, a escola em que Guto estudava ofereceu essa modalidade de esporte. Como ele já havia demonstrado interesse anteriormente, escolheu o Karatê como modalidade esportiva complementar da atividade escolar. As aulas eram ministradas a tarde e minha esposa era quem o acompanhava, já que neste período do dia ainda me encontrava no trabalho. Mesmo assim cheguei a assistir ao treino algumas vezes, mas não o suficiente para entender a importância do Karatê no dia a dia daqueles que o praticavam de maneira plena e harmoniosa com o seu estilo de vida. Até então era para mim, apenas uma modalidade esportiva igual as demais como escolinha de futebol e natação, nas quais ele já tinha iniciado, por orientação da própria escola.

Em 2006, matriculamos nosso filho no Colégio Santa Emília, e apesar da outra escola nos ter convidado para continuar com as aulas de Karatê, preferimos o oferecido pela nova escola, devido ao horário. Sendo os treinos à noite e no sábado, a responsabilidade de acompanhá-lo, ficou comigo.
Assistindo regularmente aos treinos, comecei a perceber que o Karatê não era apenas um esporte, tinha algo mais. Mais o quê? Através da Internet, encontrei alguns sites e comecei a lê, sobre a origem do Karatê, o lema, o Dojo kun, o Niju kun, os golpes de mãos e pernas, o kiai, o oss, a força oculta do Karatê (o movimento dos quadris), etc... Antes disso, adquirimos o livro intitulado “O Karatê Estilo Shotokan e o Psicodrama”, de autoria do professor Hélio. Com alguns conhecimentos teóricos sobre essa arte marcial, com a observação dos treinos e com os constantes incentivos do meu filho, foi aumentando a motivação de fazer parte desse seleto grupo.
Nesse período, conheci Antonio Cordeiro Lins, e em um dos nossos encontros, conversamos sobre a possibilidade de freqüentarmos as aulas de Karatê, levando em conta uma série de limitações (disponibilidade de tempo, idade, problemas de saúde) e benefícios que a prática poderia nos proporcionar, mas mesmo assim resolvemos, a título de teste, nos matricular. Vale ressaltar, que já tínhamos outra motivação, que em nossas conversas não deixamos de comentar, da nossa aceitação (terceira idade) no grupo. Alguns praticantes, como Arthur Santos, Iugi Hatayama e Valdézio, já vinham nos dando uma força e isso foi importante no item aceitação. Outras pessoas faziam parte indiretamente do grupo como Paula (mãe de Carol), Ana Lúcia (mãe de Cleidson) e Renata (esposa de Valdézio), disseram a mesma coisa. Vale aí um comentário a parte, alguns meses antes, conversando com Renata, psicóloga, teria dito que sempre tivera vontade de praticar uma atividade dessa natureza. Que quando jovem tinha iniciado superficiais treinos de Judô e boxe com alguns colegas que podiam e freqüentavam academias voltadas para esses estilos. E que por conta da situação financeira dos meus pais, nunca foi possível, obviamente, de satisfazer essa vontade, e que agora, estava me realizando através do meu filho. Ainda lembro as palavras da Drª. Renata permita-me chamá-la de doutora, uma vez que o conselho foi mais da profissional de psicologia, portanto de quem conhece os sentimentos humanos. “Você parece que está numa condição física muito boa, inclusive com saúde, por que não aproveita essa boa fase e não faz o que você sempre sonhou?” Nesse dia, em casa, e com a cabeça no meu, grande amigo, (o travesseiro), fiquei pensando com os meus botões, analisando o conselho e vendo o quanto de verdade foi dito.
Outro forte motivo que, também, influenciou na minha decisão, é que sofro, há anos, de bronquite asmática, e associado, na época, a um tratamento homeopático, consegui controlar os acessos, e hoje sinto-me perfeitamente bem, chegando até a passar pelo período de inverno, sem crises e com o mínimo de medicamento.
Nesse processo de aceitação, não poderia deixar de registrar o apoio, o carinho e o companheirismo de minha esposa, que foi fundamental na tomada de decisão. Assim no início de setembro de 2006, efetuei minha matrícula e iniciei meus treinamentos.
Sempre gostei de esportes, quando jovem nunca deixei de praticar dois ou três deles (futebol, voleibol, futebol de salão, longas caminhadas, corridas, etc.). Gostava, também, de lutas, principalmente das lutas livres, boxe e Judô. Hilário Silva, Valdemar de Oliveira, Hélio Gracie e até Ted Boy Marinho, eram meus ídolos nacionais. Os filmes adquiridos ou alugados eram sempre os de artes marciais. Jackie Chan, Jete Lee, Bruce Lee, Chuck Norris, Van Dame, Charles Bronson (O Lutador de Rua), Cassius Cley e outros, eram também os meus heróis internacionais.
Assim comecei a praticar o Karatê com muita vontade e determinação, e em pouco tempo aprendi o primeiro heian (heian-shodan), kata do 6º kyu. Com ajuda do meu filho, que tinha quase dois anos de treino, fui aprendendo o segundo heian (heian-nidan) e o terceiro (heian-sandan), ainda na faixa branca. Ficava ansioso para aprender os demais, inclusive alguns superiores. Cada treino era um degrau alcançado. O aquecimento (exercício e seções de alongamentos), a prática do kihon, do kihon ippon, do sanbon-ippon, do gohon-ippon, do jiyu-ippon e shiai-kumite eu executava com gosto, com motivação e com kime. Encontrei muitas dificuldades, mas sempre conseguia motivação para continuar, só pelo prazer de participar, de aprender, de estar no meio de jovens e ser aceito como igual, sem preconceitos. Isso era e é importante para mim.
Hoje ostento com orgulho a faixa marrom, e estou me preparando para a preta, e na esperança de alcançar êxito, tenho praticado com afinco, corrigindo sempre a postura, os movimentos, as bases, os ataques e principalmente escutando com muita atenção as orientações e conselhos do professor.
Participei de alguns cursos, como o de socorrista, o de árbitro e o de defesa pessoal. Tenho participado também, das competições como atleta, como árbitro e como mesário. Essas participações têm me enriquecido e aumentado os meus conhecimentos.
Durante o período que venho treinando, alguns fatos, algumas pessoas, e o que eles disseram foram significativos, e gostaria de relatá-los. Logo no início, em outubro ou novembro de 2006, Agnaldo (faixa preta 1º Dan), observando o meu desempenho e determinação nos treinos, e na sua simplicidade fez o seguinte comentário: “Você deveria ter iniciado no Karatê há mais tempo”.
No exame para faixa amarela, ao receber a aprovação da banca, o professor Jairo Paiva Ferreira (faixa preta 3º Dan), também fez esse comentário: “Puxa, você melhorou bastante...”. E elogiou a nossa decisão, e minha e de Antonio Cordeiro Lins por estarmos maduros cronologicamente (acima dos sessenta anos), participando dessa nobre arte marcial, elogio esse, que foi corroborado pelo presidente da banca examinadora Hélio Simões de Matos.
No curso de arbitragem, em setembro de 2007, ministrado pelo professor Ary Spencer (faixa preta 5º Dan), era eu e Antonio Lins (na época faixas laranja), e estávamos participando ativamente, perguntando e respondendo a várias perguntas formuladas de acordo com o assunto apresentado. Em dado momento, o ministrante fez a seguinte observação: “... olhem os faixas laranja, hein?...”.
Por ocasião do XV Campeonato Pernambucano, realizado nas quadras do Colégio Santa Emília, ocorreram três fatos significativos, que também devem ser relatados. O primeiro a sensibilidade com que o professor Denivaldo José Paulo (faixa preta 4º Dan), árbitro central, conduziu uma falha minha na execução do heian-sandan, me dando outra oportunidade. Nesse momento houve empate e o kata determinado pelo árbitro central para desempate foi o heian-shodan. Na execução, o meu concorrente atrasou seus movimentos e para evitar colisão, um dos movimentos (tettsui jodan) não saiu perfeito, prejudicando os próximos, mas mesmo assim o professor Alexandre (faixa preta), percebeu o ocorrido, e deu uma boa nota. E o último foi o estímulo dado por Abimael Santos. No final do campeonato ele (Abimael) vindo em minha direção fez o seguinte comentário: “... o seu kata (heian-shodan) não é ruim não, ele é muito bom, inclusive ouvi comentários, porque o outro atrasou...”. Vários outros bons momentos ocorreram com os constantes incentivos dos colegas Arthur Santos, Iugi Hatayama, Rodrigo Santos e Ricardo Alencar, apoiando e orientando sempre quando havia necessidade.
Esse outro fato que vou relatar realmente me fez perder o sono: Em dezembro de 2007, fizemos uma demonstração extra de kata, kihon e enbu na quadra do Colégio Santa Emília. No final da demonstração fui surpreendido com o “Diploma de Atleta Revelação 2007”, pela Associação Líder de Karatê. O que para mim representou uma grata surpresa e ao mesmo tempo um grande estímulo para continuar perseguindo o ideal de perfeição que o Karatê requer.
Por fim, em seguida fui indicado como “Atleta Destaque 2007”, pelo Colégio Santa Emília, fato que me deixou muito emocionado, pois no meio de tantos jovens, também destaques em outras modalidades de esportes, eu e Arthur Santos, estávamos representando a equipe de Karatê do CSE. Recebi aplausos, felicitações e incentivos, inclusive que vale ressaltar, quando o professor Hélio Simões cumprimentando disse: “... essa é uma das muitas outras que virão...”.
São incentivos dessa natureza que nos impulsionam a aprender mais, a corrigir, a melhorar, a escutar atentamente o que é dito pelo professor e colegas, nunca deixar de treinar, agradecer ao nosso bom Deus, por estarmos juntos, interagindo e trocando idéias.
Não fugindo do tema principal desse trabalho, basicamente “o que o Karatê representa na minha vida”, é a forma e o modo de ver e encarar a vida, de respeitar o próximo, independente da raça, crença e ideologia, de manter a saúde, a concentração, de exercitar a memória, de manter a coordenação motora, o condicionamento físico, a convivência e a tolerância.
Ao elaborar um trabalho dessa natureza, seria impossível não dedicar um tópico ao professor e amigo Hélio Simões. Praticar o Karatê, com certeza, é muito bom; mas fica bem melhor se estiver à frente um profissional, com excelente didática, profundo conhecimento das técnicas do Karatê e outras artes marciais, com a finalidade de torná-lo mais interessante, mais atrativo e de fácil acesso a pessoas de todas as idades. Aliado a tudo que foi dito, possui o professor, conduta ilibada, conhecimento amplo sobre outras disciplinas, que são fundamentais a um líder. O professor Hélio Simões, sem sombra de dúvida, é detentor de tudo isso e muito mais. Cristão, pai, amigo, gosta do que faz, tem prazer em repassar o que sabe e vibra com os bons resultados alcançado por seus alunos. Nas aulas normais, sempre que possível e tomando como exemplo os ensinamentos de Jesus Cristo, orienta seus alunos karatekas, através de conversas e palestras, a seguir o caminho da paz, da verdade, a respeitar seus pais, seus irmãos, seus mestres e amigos e ficar longe das bebidas alcoólicas, do fumo, das drogas. Incentivando sempre e procurando manter a integração do grupo com atividades curriculares e extracurriculares.
Finalmente deixo essa mensagem para ilustrar meu sentimento, com relação a todos que praticam de alguma forma uma arte marcial. A religiosidade e a filosofia são os principais fundamentos das artes marciais. A aceitação e a concentração nesses fundamentos fortalecem o espírito e o treinamento do corpo. Mesmo com todas as dificuldades, o karateka deve manter o ritmo de treinamento e que utilize seus conhecimentos a fim de colaborar com a sociedade. Assim, precisam entender o poder que tem, e o que podem fazer com as artes marciais para criar um mundo melhor, mais humano, mais solidário e pacífico e sentir o prazer de viver, ser feliz e proporcionar essa felicidade ao seu semelhante.

2009, Solon.


Palavras do Shihan Hélio sobre Solon:
Solon Luiz de Castro Costa atualmente é faixa marrom de Karatê, nascido em 25 de março de 1947, portanto com 61 anos de idade, é pai de Luiz Augusto Ramos de Castro Costa (Guto), também faixa marrom de Karatê.
Solon vem nos surpreendendo com sua determinação, com sua disciplina, com sua garra e sua capacidade de se desenvolver nas sendas do Karatê. Tem sido uma referência no que se refere à força de vontade e superação para todos nós. É um orgulho para nós tê-lo como aluno, como companheiro de treinamento, e, sobretudo como amigo. Portanto, reconhecê-lo como atleta destaque de 2007 foi mais que uma obrigação de todos nós que fazemos o Karatê do Colégio Santa Emília, foi um dever e uma grande satisfação!
Em 13 de abril de 2008, participou do II TORNEIO DE KARATE-DÔ DE IGARASSU, sagrando-se campeão em Kumite (acima de 40 anos – de marrom a preta, masculino) e vice-campeão em Kata;
Em 18 de maio de 2008, participou do XV CAMPEONATO PERNAMBUCANO DE KARATE-DÔ TRADICIONAL, realizado na unidade II do Colégio Santa Emília, obtendo o 3º lugar em Kata e o 2º lugar em Kumite;
Participou, no dia 17 de agosto de 2008, representando o Colégio Santa Emília e o Estado de Pernambuco, do I OPEN RECIFE DE KARATÊ JKA, realizado no Geraldão (sendo na ocasião elogiado e parabenizado pelo representante da JKA no Brasil, Yasuyuki Sasaki, 8º Dan), sagrando-se vice-campeão em Kata e vice-campeão em Kumite – Master.
Hélio Simões

2 comentários:

  1. Olá, Boa Tarde!
    Me chamo Caroline, tenho 24 anos e buscando sites sobre o karatê encontrei esse depoimento fantástico que simplesmente respondeu a todas as minhas dúvidas em iniciar o treinamento ou não!
    Tenho acompanhado minha irmã aos treinos e venho sentindo uma vontade imensa de praticar tbm, mas me achava um pouco velha para iniciar, achava que o bom é quando ainda é criança...
    E o Solon disse algo que mexeu muito comigo, hoje estou tendo a oportunidade de praticar o esporte que qnd era criança meus pais não puderam me proporcionar!
    Vou essa semana mesmo conversar com o professor da minha irmã e começar a praticar um estilo de vida novo!
    Mesmo sem saberem quem sou, obrigada, pois suas palavras iluminaram meu caminho...

    Grande abraço,
    Caroline Gioseffi (cgioseffi@oi.com.br)

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  2. Boa noite pessoal eu sou faixa amarela de karate mais treino de vez em quando com um faixa marron
    eu era aluno do professor jeorge aki de tejipio quero treinar com vcs ai pessoal por esses dias eu por ai no geraldao flw ate mais

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